Van Morrison - Duets ***

Discos de duetos tipo chuva de estrelas raramente resultam. Talvez pelo cerimonial associado, talvez porque todos se sentem na necessidade de demonstrar que estão ali por uma razão, resultando daí uma boa dose de artificialismo. A incursão de Van Morrison por esse território não é a excepção que confirma a regra. O melhor do disco ainda são as canções, todas da zona menos conhecida da obra de Morrison... e a voz do próprio. Aliás, com alguma dose de maldade, poder-se-ia concluir que engendrou este plano apenas para demonstrar a sua superioridade face a muitos dos convidados. Claro que Mavis Staples, Bobby Womack, ou mesmo Michael Bublé, por exemplo, fazem (bem) o que deles se espera. Na verdade, nem são eles, os convidados, o que mais desilude, mas sim o tom demasiado ligeiro das abordagens musicais, bem longe da intensidade blues e folk que associamos a Morrison e que, aqui, quase só a sua voz transmite.

Scott Matthew - This Here Defeat *****

Prometer não chorar e quebrar em lágrimas. Virar as costas e continuar lá. São assim as melhores canções de amor, as que se perdem nos territórios da impossibilidade. Scott Matthew tem pergaminhos nesse labor de explorar os prazeres da dor, mas este quinto disco traz algumas novidades. É certo que ainda há temas, como "Here We Go Again" (belíssima balada, a remeter para as colaborações com Rodrigo Leão), ou mesmo o minimalismo depressivo de "Soul To Save", que mais não são que sal deitado em feridas. Mas "This Here Defeat" é já um grito contra a melancolia, num registo surpreendentemente pop, e "Bittersweet" transforma mesmo a separação (é disso que se trata...) em algo assobiável e até dançável. A voz sofrida de Scott ainda é dominante, mas a chegada fulgurante das guitarras, teclas e percussões é decisiva para a mudança de paisagem. O disco, de grande elegância na composição e produção, equilibrado na diversidade, foi gravado em Lisboa, mas isso não se nota.

José Cid - Menino Prodígio ***

Qual o contrário de xenofobia? Ah, pois é... José Cid e mais uns tantos, da mesma geração e de outras que se lhe seguiram, são vítimas dessa xenofobia ao contrário. Do desprezo pelo que nos é próximo. E também da ausência de uma verdadeira industrial musical. Não custa muito adivinhar que este disco vai ser mais uma vítima dessa aversão pelo que é nosso. Porque José Cid faz tudo certo. Pega em dois músicos e vai para um estúdio analógico, agora tão na moda, gravar 13 canções que nos transportam no tempo para o início dos anos 70. Não faltam dois inéditos dessa altura ("Blá!, Blá!, Blá!" e "Monstros Sagrados"), uma versão ("I Don't Wanna Miss a Thing", dos Aerosmith) e um poema a sério ("Os Poetas", de José Régio). O som é o rock de raiz beatleana, o tom é inconformista, próximo do canto de protesto. A grande pedalada dos músicos, quase faz esquecer a fragilidade da voz de Cid... Falta-lhe, porém, o glamour das grandes estrelas "lá de fora".