Andrew Bird - Noble Beast *****

O ouvinte menos avisado poderá exclamar, assim à primeira espreitadela: “O quê? Mais um disco com um fulano que assobia?” Não, caro leitor, este não é “mais um fulano que assobia”, este é “o” fulano que assobia. Andrew Bird tem uma teoria – convém prevenir que estamos perante um erudito –, segundo a qual o assobio será o espelho mais fiel da forma como a música se forma no cérebro. Daí a assobiar por dá cá aquela palha foi um passo.
Andrew Bird tem ainda outra característica peculiar no mundo pop – é violinista. Mas, atenção (o fulano é mesmo complexo…), toca violino como quem toca… saxofone. É verdade, ele está convencido de que, quando pega no violino, está a fazer o mesmo que Lester Young ou Coleman Hawkins.
Bom, mas o que podemos esperar de um disco de um fulano que assobia e que toca violino armado em saxofonista. Na verdade, tudo, como prova a sua já relativamente longa carreira (sete discos, cinco deles a solo).
Este Noble Beast corre sérios riscos de se tornar o seu melhor disco. Após uma incursão mais indie, com Armchair Apocrypha (2007), dá um passo atrás e oferece-nos um registo que tem tanto de folk, como de clássico, como de experimentalista, como de… pop.
Por exemplo, logo a abrir, apetece acompanhar os assobios e coros de “Oh No”, mesmo que o coro fale em “harmless sociopaths” e a canção em “calcified arhythmatists”, que parecem expressões muito pouco pop e até pouco assobiáveis.
Digamos que o assobio que inadvertidamente soltamos, aqui e ali, resulta da exuberância (alegria, mesmo…) que exala desta música incrivelmente complexa e a exigir muita atenção para uma perfeita absorção. Por exemplo, em “Masterswarm”, “Effigy” ou “Souverian”. Que de coisas complexas resulte uma beleza tão evidente, eis o mistério.