Ryan Adams - Prisoner ***

É impossível não ouvir Springsteen quando surge aquele solo de saxofone sobre fundo de estalidos de dedos e guitarra acústica dedilhada em “Tightrope”. E, então, se já antes se ouviram umas teclas de fundo (“Shiver and Shake”) e uma batida (“Haunted House”), marcas registadas do Boss, então, a coisa fica complicada. Não que Ryan Adams alguma vez tenha renegado as suas influências, mas neste 15.º disco elas ficam talvez demasiado à vista. Um dos músicos mais irrequietos da sua geração (o disco anterior era uma versão do “1989”, de Taylor Swift), consegui, apesar dessa busca intensa, timbrar um som reconhecível a distância considerável. Qualquer coisa entre uma country sofisticada (aqui “To Be Without You”) e a sonoridade das grandes bandas dos anos 80. Essa batida acaba por iluminar um disco de ruptura amorosa, mais uma vez inspirado na vida real. Ambas, música e dor de alma, não primam pela surpresa, ou mesmo originalidade.

Diana Krall - Turn Up the Quiet ****

“Sway”, a rumba que Dean Martin imortalizou, é aqui quase eternizada, numa langorosa versão de mais de seis minutos, em que, à vez ou em diálogo, piano, guitarra, baixo e bateria dizem o que têm a dizer, antes que toda uma orquestra por ali irrompa a abrir caminho a um pequeno solo de violoncelo. É Diana Krall em grande, num disco que marca o regresso aos standards e ao jazz. Um disco que apela à intimidade, à volta de temas que cantam o amor feliz. As canções sucedem-se em trio, quarteto e orquestra, sempre com espaço para o improviso, com destaque especial para a guitarra de Russel Malone. “No Moon at All” e “L-O-V-E” são os temas em que o jazz mais se expõe, especialmente na segunda, em que Krall mostra que é tão boa no piano como na voz. Um 13.º disco que revela a artista num ponto particularmente alto, em que casa na perfeição o rigor da interpretação com um à-vontade notável na encenação das canções.

Alison Krauss - Windy City ***

Algumas das melhores baladas que ainda hoje se ouvem nasceram nas águas, ou nas margens, da música country, nos idos de 50 e 60 do século passado. “Losing You” ou “You Don’t Know Me” são apenas alguns dos exemplos a que Alison Krauss dá voz, neste seu primeiro disco a solo desde 1999. Também ela oriunda dos territórios country e bluegrass, decidiu celebrar o 30.º aniversário de carreira com um disco em que recupera precisamente as grandes baladas e canções mais mexidas dessas duas décadas prodigiosas (na verdade, há dois temas bem mais tardios, mas ninguém vai notar...). O grande trunfo do disco é mesmo a voz de Alison, e a produção faz-lhe as honras: orquestrações certinhas, sem grande rasgo, a dar todo o espaço à interpretação vocal. Essa construção acaba, porém, por enfraquecer demasiado o conjunto, que acaba por nunca sair de uma certa mediania. Apesar de tudo, pérolas há, como “Gentle on My Mind” que sobrevivem.

Lloyd Cole - In New York, Collected Recordings 1988-1996 ****

“Deveria ter percebido que a minha carreira estava em declínio. Não percebi, porque as coisas ainda corriam bem na Escandinávia, França, Portugal...”. O segundo volume da obra completa de Lloyd Cole – o primeiro saiu em 2015 e reunia a discografia com os Commotions (1983-88) – é admirável a vários níveis, a começar pela sinceridade com que confessa os seus falhanços. Mesmo que esse falhanço seja, afinal, muito relativo, pelo menos do ponto de vista artístico. Citando Dylan, um dos seus ídolos assumidos: “there's no success like failure and failure's no success at all”... 
Esta caixa conta a história da aventura nova-iorquina, logo a seguir ao fim dos Commotions. Fá-lo através dos quatro discos oficiais desse período: “Lloyd Cole” (1990), “Don’t Get Weird on Me” (1991), “Bad Vibes” (1993) e “Love Story” (1995). Mas também com um disco rejeitado pela editora, em 1996, e um outro que reúne versões alternativas e canções nunca editadas desse mesmo período. Precioso para entender essa aventura americana é o pequeno livro que integra a edição e no qual Lloyd Cole e os músicos que o acompanharam nos contam a história desses anos. Um músico desorientado, numa década áspera. Na Inglaterra natal, dominava a Britpop, mas, na sua “circunstância americana”, ele tentava encontrar um lugar entre Dylan, Lou Reed, Van Morrison, Burt Bacharach. Com as editoras a exigirem-lhe êxitos, que não chegavam, músicas de dança e outras concessões, que ele não fazia, para finalmente lhe fecharem a porta. 
Resumidamente, disco a disco: Cole tenta dar continuidade e densificar os Commotions (90), faz um disco meio eléctrico, meio orquestral, numa tentativa de perceber o que queria (91), deita tudo a perder num disco denso e desfocado (93) e renasce das cinzas através de uma via mais acústica e folk (95), que prosseguirá na fase posterior. 
Esta série de colectâneas tem a virtude de (re)colocar Lloyd Cole no lugar que merece, como um dos compositores mais interessantes da sua época. Canções como “No Blue Skies”, “Downtown”, “Undressed”, “Margo’s Waltz” ou “Like Lovers Do” não o deixam mentir.