Rufus Wainwright - Live From The Artists Den **

O início deste DVD é especialmente irritante. O primeiro tema, "Candles", é pura e simplesmente assassinado quando lhe colocam em cima dois depoimentos, o do próprio Rufus e o de um pároco, acerca da importância de o concerto estar a ser gravado numa igreja. Ora "Candles", não só está a ser interpretado - em fundo, insista-se - numa bela versão "a cappella", como se trata de uma sentida homenagem póstuma à mãe do cantor, a canadiana Kate McGarrigle. Agora, digam lá como é possível que um atropelo destes aconteça num DVD musical, ainda para mais proveniente de uma afamada série americana, a Artists Den, dedicada precisamente a concertos de artistas famosos em locais inesperados, no caso, a igreja da Ascenção, em Manhattan... Diga-se que a gracinha se repete ao longo dos 120 minutos, felizmente com um impacto bem menor, já que os curtos depoimentos aparecem nos intervalos das canções (e, já agora, quem quiser ouvir a versão não adulterada de "Candles" terá que recorrer ao CD que entretanto também foi lançado). O desleixo inicial acaba, porém, por ser revelador e, sendo certo que nada corre verdadeiramente mal no concerto, não deixa de ser verdade que não estamos propriamente perante um dos melhores momentos de Rufus. As versões (10 dos 16 temas são do último Out Of The Game, de 2012), sempre competentes, nunca descolam muito do que conhecemos dos estúdios, e o cruzamento das guitarras com um omnipresente sintetizador acaba por conferir uma textura demasiado fria aqui e ali. Entre os melhores momentos do disco estão as interpretações de dois temas dos progenitores: "One Man Guy", de Loudon Wainwright III, e "On My Way To Town", de Kate McGarrigle. Rufus, embora em plena forma vocal, despacha as canções com profissionalismo, mas sem chama. E nem os diálogos com o público são brilhantes, ao contrário do que é habitual - o momento "alto" é a (não) utilização de uma máscara de Helena Bonham Carter (porquê?, já agora).

Rufus Wainwright - Vibrate ****

Rufus Wainwright é um dos mais talentosos compositores surgidos nas últimas duas décadas. E, no entanto, basta percorrer sites e revistas da especialidade para perceber que são raríssimas as vezes em que colheu a simpatia máxima da crítica. Ou seja, os seus discos, sempre muito bons, quase nunca atingem o estrelato da nota máxima. Este Best Of, revisitação dos sete registos de estúdio, ajuda a dar algumas respostas a esse paradoxo, apesar de, como todas as colectâneas, fazer opções e deixar de fora zonas subtanciais do acervo acumulado. No caso, optou-se claramente pelas canções mais fáceis, mais comerciais, excluindo baladas marcantes e temas mais complexos. E que Rufus resulta deste balanço? Certamente, alguém que bebeu e remistura influências, do pop à clássica, passando demoradamente pelo cabaret. Mas também alguém que se deixa enredar por linhas melódicas e harmónicas que se repetem disco após disco. É bom, mas está a precisar de se reinventar.

Joan As Police Woman - The Classic ****

Deitar fora todos os demónios e dar espaço a um amor monumental, canta Joan Wasser em "The Classic", o tema central deste seu quarto disco. E este é verdadeiramente um tempo de ruptura com a pesada melancolia que assombrava amiúde os registos anteriores - conferir, por exemplo, "Forever And A Year", do CD de 2011 (The Deep Field). Agora, pelo contrário, tudo é luz, vibração, esperança. A memória da Motown serve de veículo perfeito para o transporte de toda esta alegria ao longo de dez temas, alguns deles fazendo perdurar a festa para lá dos seis minutos - "Good Together", excelente na forma como acumula a tensão que acabará por se descontrolar na longa recta final, numa metódica exorcização da "nostalgia daquilo que nunca houve". Soul de excelência, com um swing danado, ouve-se ainda em "Holy City", ou no assumido revivalismo doo-woop de "The Classic" (deliciosa, a citação de "Respect", de Aretha Franklin). E mesmo as baladas, como "Stay" ou "New Year's Day", inclinam-se mais para uma toada zen do que para a fatalidade de outros tempos. Uma mudança de rumo agradavelmente desconcertante, a demonstrar uma enorme segurança na composição, mas especialmente na conceptualização e na interpretação.