Phoebe Killdeer and The Short Straws - Weather’s Coming… *****

As apresentações poderiam ser feitas assim: ouviu o Tom Waits aos oito anos e ficou apanhadinha de todo. Ou então assim: colaborou com os Basement Jaxx e os Bang Gang. Isto já seria dizer alguma coisa. Mas a melhor apresentação seria esta: é uma das vozes femininas do segundo disco dos Nouvelle Vague (Bande à Part) e deu imenso nas vistas quando andou por esse mundo fora em digressão. Mas a apresentação só fica completa se se disser que Marc Collin, um dos mentores dos Nouvelle Vague, co-produz o disco. E para que o zoom fique completo, basta acrescentar que, ao contrário dos Nouvelle Vague, estamos perante composições originais, mais precisamente 12, todas elas assinadas por Phoebe Killdeer.
Em suma, a fórmula Nouvelle Vague, uma espécie de cozinha musical, uma nouvelle cuisine, sofisticada, aplicada, desta vez, a composições originais. Perde-se a graça de tentar descobrir o original por detrás da versão, ganha-se a experiência de tentar perceber se a ideia resiste.
O segredo desta música passa mais pela execução que pela composição, que é, na verdade, um tanto ou quanto minimal repetitiva. A execução, essa sim, revela-se de uma gloriosa exuberância. As composições lineares são vestidas, ora de uma quase bossa nova lounge (“Let Me”), ora de música de cabaret (“He’s Gone”), ora de sonoridades mais vanguardistas e eléctricas (“Stuck Inside”). Só que, como na fórmula que lhe deu origem, nada é assim tão simples, tudo se cruza, na tal cozinha global e experimental. Phoebe fala das loucuras deste mundo, sem grandes rodeios (“Looking For a Man”) e até com sentido de humor (“Paranoia”). Um disco que se saboreia e se vai entranhando.

Billy Bragg - Mr Love and Justice ****

Os tempos não estão para revolucionários, muito menos para revolucionários românticos. Fidel arrumou as botas e Bush, o mau da fita, também já não se sente lá muito bem. Billy Bragg é um revolucionário romântico, ainda não arrumou as botas, mas digamos que calçou as pantufas. Na verdade, desde que a senhora Thatcher saiu de cena que Billy ficou assim como que sem musa inspiradora. Os anos de ouro dela (os oitenta) foram os anos de ouro dele. São desse tempo os hinos que moldaram o estilo, um peculiar cruzamento entre o punk, na voz e na pose, e o folk, na abordagem temática e estética.
E a crise de causas é tal que Bragg não gravava nada de original há seis anos (England, Half English é de 2002), tendo andado por aí em colaborações e aventuras menores. O regresso pretende ser coisa séria. Faz-se acompanhar pelos Blokes, um grupo que criou na viragem do milénio, embora haja por aí uma versão limitada com um CD em que as canções surgem à velho Billy, ou seja, apenas com voz e guitarra.
É claro que passam por aqui o Iraque (“Sing Their Souls Back Home”) e tudo o que se seguiu ao 11 de Setembro, num “O Freedom” de refrão bem esgalhado: “O Freedom, what liberties are taken in thy name”. E há ainda a relativamente falhada tentativa de fazer humor com o antitabagismo (“The Johnny Carcinogenic Show”). Mas onde BB se torna mais audível é nas baladas mais intimistas, como a que abre o disco (“I Keep Faith”), com Robert Wyatt nos coros, ou em “You Make Me Brave”.
Será, pois, um disco que não desilude quem conhece Bragg, até porque não se trata de um mau disco, mas que, muito provavelmente, não terá a força para gerar novos admiradores.

Lizz Wright - The Orchard *****

Começando pelo princípio, é assim: “Coming Home” é um gospel; “My Heart” é uma canção fabulosa merecedora de qualquer top; “I Idolize You”, original de Ike Turner, é um blues bem puxado, a lembrar mais as versões brancas do final dos anos sessenta que os originais negros; “Hey Mann” é tão country que até tem slide guitar; em “Another Angel” juro que se sente, a cada segundo, a respiração de Joni Mitchell; “When I Fall” é cantada da maneira que Joss Stone gostará de cantar quando for crescida… e depois há ainda mais umas baladas quase folk e um jazz soft, elegante, que pede alta fidelidade. Em todos os sentidos.

Mas quer isto dizer que Lizz Wright é um compacto de imitações? Nada disso. Estamos perante uma das vozes mais belas da década, trabalhada profissionalmente após os anos de descoberta na igreja onde o pai pregava a fé. Uma voz forte, possante, mas aveludada, colocada em destaque por orquestrações do mais cuidado que por aí se ouve.
E a provar essa originalidade, há ainda o facto de, ao terceiro disco, Lizz co-assinar oito das 13 canções, após Salt (2003) e, principalmente, Dreaming Wide Awake (2005), em que privilegiou os standards. Aqui, além de Ike Turner, revisitamos os Led Zeppelin, com “Thank You”, como se fosse necessário demonstrar as raízes negras de tudo aquilo, ou um sempre emotivo “It Makes No Difference”, dos The Band.
Mas a belíssima balada “Song for Mia”, ou a swingante “Leave Me Standing Alone” sairam da pena de Lizz Wright e merecem ombrear com alguns dos clássicos deste Orchard.
Será uma pena que um disco destes se perca na confusão de prateleiras das discotecas. Porque é do melhor jazz, mas também da melhor soul e da melhor pop que a América tem agora para dar.

Luís Represas - Olhos nos Olhos ***

Preparem-se. A moda Primavera/Verão 2008 na rádio portuguesa inclui uma canção em que fogueira rima com piteira. E se os mais novos perguntarem o que é isso da piteira, contem-lhes que se encontram, por exemplo, em Sagres, onde Luís Represas acampou quando era mais novo e onde voltou agora para escrever canções com o seu quê de autobiográfico, mas destinadas a serem cantadas em coro nos concertos ou em grupo nas tais noites de Verão.
A balada “Sagres” poderá ser o primeiro sucesso deste disco, mas outros temas poderão ter o mesmo destino, a começar pela canção de abertura (“Entre Mim e Eu”), bem mais animada e a fazer lembrar os pré-históricos Trovante.
Olhos nos Olhos foi gravado integralmente em Cuba e isso nota-se. Obviamente mais em “América”, em que às sonoridades cubanas nem sequer falta um improviso de Pablo Milanés. Mas o toque acústico-doce-ligeiro da música das caraíbas sente-se um pouco por todo o disco, talvez influência de Miguel Nuñez, produtor e director de orquestra com quem Represas volta a encontrar-se.
Da América chegam ainda outros dois convidados: a brasileira Simone, num bem conseguido dueto, e a Liuba Maria Hevia, numa das mais belas canções do disco (“Pessoas Felizes”).
Um dos aspectos mais decepcionantes para quem gostaria de ouvir neste disco mais que o Represas das baladas para coro das multidões é o pouco que se aproveita do excelente naipe de músicos que teve ao seu dispôr. A voz, omnipresente, só em escasas ocasiões dá liberdade a uma intervenção um pouco mais marcada dos músicos.

Bryan Adams

Bryan Adams merecia aparecer naqueles cartazes que promovem Portugal como o não-sei-quê da West Coast. Ou será West Coast do-não-sei? Não interessa. A verdade é que Bryan Adams, sim o Bryan Adams, escolheu Portugal para estrear o seu novo disco. Ao vivo. Uau… clamam as fãs. Não clamem, que não vos vale de nada. O canadiano romântico de voz agreste vem a Lisboa estrear o novo disco mas, e essa é a péssima notícia, vai fazê-lo no Maxime (!), que, como calculam, está com a lotação para lá de esgotada.
O disco novo chama-se 11 porque (viva, adivinharam…) é o 11.º da carreira de Adams. E sabem da ideia genial que o moço teve para o promover? Se estão a pensar que uma deia gira era fazer 11 concertos em 11 dias em 11 países (boa!) acertaram. Só vos faltou, porque disto nunca se lembrariam, que a apresentação será feitaao melhor estilo unplugged, ou seja, apenas ele, uma viola e uma harmónica. Custa a imaginar, não é? Aquelas canções gritadas, cheias de riffs eléctricos, pensadas para grandes estádios, cantadas, assim, no aconchego de pequenas salas, quase em família…
Não pensem que o novo disco, que só sai dia 17, foi feito a pensar nisto. Nope… É um disquinho exactamente igual aos outros de Bryan Adams, só com uma diferença… tem 11 canções. Tem um single já a rodar, “I Thought I’d Seen Everything”, e tem mais uma data de canções do mesmo calibre (“Oxygen”, por exemplo) e daqueles hinos românticos para encostar o ombro nos concertos (“Something To Believe In”). Se quiserem, aposto que ainda o vamos ouvir este Verão por cá. De guitarra eléctrica em punho.