Andrew Bird - Aula Magna

Ah, os encantos de Lisboa! Andrew Bird é apenas mais um dos grandes nomes da cena musical contemporânea que se apaixonou pela cidade e que viu tal amor correspondido. Já cá actuou muitas vezes, já cá passou uns dias, deu conferências sobre escrita musical (!), já cá escreveu canções (“Tenousness”), já cá se inspirou para canções “Lusitania” [buhhh... um erro que Bird rectifica na última edição do Ipsilon/Público]. E quando dizemos que se trata de um dos grandes da música actual não estamos apenas a devolver a simpatia. Apesar de não andar pelos tops, Andrew Bird é, de facto, um dos mais talentosos compositores no activo, cruzando influências folk, pop, ciganas, clássicas... Não se fica, porém, pela composição. É um intérprete de mão cheia, seja pela voz melodiosa e bem colocada, seja pela faceta de multi-instrumentista, com o seu quê de experimental, seja pelo famoso assobio, com que adorna muitas das canções. Seja, finalmente, pelo empenho e criatividade que empresta às actuações ao vivo. Assistir a um dos seus concertos é, desculpe-se a redundância, um espectáculo. Porque Andrew Bird, irrequieto mas concentrado na sua música, enche um palco, supreendendo o público e os músicos que o acompanham com o modo como reinventa canções que originalmente já eram de grande riqueza de composição e interpretação. Esta passagem pela Aula Magna centra-se em Break It Yourself (2012) e no seu complemento acabado de sair (Hands of Glory), mas haverá certamente inúmeras viagens ao passado. Lisboa merece.


The Walkmen - TMN Ao Vivo

 
É um caso de amor. Poderá ser até desconcertante, mas, como todos os casos de amor, não tem grande explicação. Entre The Walkmen e os portugueses há uma certa química, percebe-se que a corrente passa. E não é nada evidente a razão para esse fascínio mútuo. Sentimo-nos, talvez, atraídos por aquele lirismo de coração ao pé da boca de “The Rat”, o tema que melhor os identifica. E talvez eles revejam em nós os românticos incorrigíveis que povoam as suas canções.
 
Delírios à parte, a verdade é que já são necessários os dedos das duas mãos para contar o número de vezes que The Walkmen actuaram em Portugal, desde que, em 2008, aqui puseram os pés (este ano, por exemplo, já passaram pelo Porto, no Verão). E, claro, não há assim tantas bandas que tenham traduzido a sua admiração por uma cidade no título de um disco (Lisbon, 2010).

A digressão que agora os traz cá centra-se no mais recente CD, Heaven, que apresenta uma banda mais segura, mais cuidada na arquitectura das canções, mais atenta aos pormenores, com o que isso implica de perda daquela força radical dos primeiros tempos. Esperam-se, por isso, momentos de algum recolhimento – sendo que seria de bom tom não se cair no exagero de entoar “We Can’t Be Beat” de mãos no ar...

Não que o novo disco não tenha motivos para que Hamilton Leithauser rasgue a voz (“Heartbreaker”, por exemplo), mas deverão ser as velhas canções a puxar a locomotiva quando o Coliseu quiser explodir em movimento de celebração.