Drive-By Truckers - The Big To-Do ***

Puros e duros. Ao contrário da generalidade dos parceiros do renascimento country (alt-country), os Drive-By Trucks não querem inovar coisa alguma. Fazem aquilo a que, há quatro décadas, se convencionou agrupar sob o chapéu de rock sulista e, se alguma coisa os distingue dessa linhagem, é a ausência do discurso descaradamente conservador. Enfim, uma música marcada pelas omnipresentes e múltiplas guitarras, entre o riff constante (Drag The Lake Charlie”) e o solo quase interminável (“After The Scene Dies”).
Nesta oitava gravação da banda (andam cá desde 1996), há, como manda a tradição, canções bem esgalhadas e quase dançáveis, como “Drag The Lake Charlie”, mas igualmente abordagens mais comerciais, à la Fleetwood Mac (“I Told You So”) e até quase-baladas, “Santa Fe”, que fazem deste disco uma experiência de audição nunca aborrecida. Uma piscadela de olho ao mercado não americano, que até agora lhes tem escapado.

Basia Bulat - Heart Of My Own ***

Basia Bulat, como o próprio nome indica, é canadiana. A sério – é mesmo canadiana. À laia de apresentação, poderíamos ainda acrescentar que faz parte da constelação Arcade Fire, mas aí já estaríamos a enganar os leitores mais incautos. De facto, quer este disco quer o primeiro (Oh, My Darling, 2007) foram produzidos por Howard Billerman, esse sim da órbita dos Arcade. Mas Basia navega outras águas, geralmente mais calmas.
São basicamente baladas folk, entrecortadas por uma outra mais animada (“If Only You”, ou “Walk For Down”), a matéria-prima com que trabalha a menina Bulat. Ouça-se, por exemplo, a lindíssima “The Shore”, um monólogo melódico apenas pautado por uma harpa e uns esparsos coros, para que fique claro o grau de intimidade com que estamos a lidar.
Acrescente-se que a voz de Basia Bulat é muito agradável e que as canções ultrapassam facilmente a mediania para que se entenda a atenção dispensada a mais esta canadiana.

Florence and The Machine

É uma das coqueluches do momento na cena britânica. O primeiro disco (Lungs), lançado em meados de 2009, atingiu o topo das tabelas de vendas já no início deste ano. Um sucesso de vendas a que não será alheio o bom acolhimento da crítica e que se reflectiu, ainda há poucas semanas, na consagração de melhor disco dos Brit Awards.
A passagem por um palco português ocorre, pois, na melhor altura, ainda para mais se tivermos em conta que, de acordo com a imprensa especializada, Florence and The Machine terão gravado em Janeiro algumas canções para o segundo disco, pelo que não seria de estranhar que, além de ouvir a totalidade dos temas de Lungs, Lisboa fosse das primeiras cidades a tomar conhecimento da evolução do fenómeno.
A música de Florence não é para gente de estômago fraco, perdoe-se a alusão a mais um dos órgãos internos do género humano, mas é mesmo de coisas viscerais que tratam estas canções. Senhora de uma voz potente, algures entre Annie Lennox e Celine Dion, Florence põe todo o seu corpo ao serviço da música, seja através de vibrantes descargas de decibéis, seja pela permanente e exuberante movimentação em palco.
E as canções são, elas próprias, essencialmente físicas (“Kiss With a Fist”), mesmo quando enganadoramente começam de mansinho (“Dog Days Are Over”). Canções de amor, temperadas com limão azedo, portanto.
Diz quem já viu que é melhor ir preparado para saltar muito durante o espectáculo. Não esperem de Florence que faça toda a despesa.

Holly Miranda - The Magician’s Private Library ***

Caso raro. Alguém a quem apetece dar uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Holly Miranda anda na música há uma década, idade que tem a sua primeira e única gravação a solo até à data. Pelo meio, integrou uma banda sem grande história (Jealous Girlfriends), com quem gravou dois discos irrelevantes.
O regresso, a solo, ocorreu o ano passado, com um EP e, agora, com este disco de maior duração. O projecto é em grande parte dominado pelo produtor – Dave Sitek, dos TV On The Radio – e esse poderá ser o grande problema: um som saturado, com uma densidade orquestral pouco comum, um pouco irrespirável.
Pelo timbre, pela maneira displicente como deixa cair as sílabas, pelos tiques de composição, Holly faz lembrar Cat Power. Até mesmo pela ausência de brilhantismo na composição. A diferença está no produção de semblante psicadélico. Torna-se, porém, tudo um pouco monótono e ficamos com a sensação de que poderia ser diferente. Vai uma segunda oportunidade?