Alicia Keys


Alicia Keys toca piano e isso faz toda a diferença. O piano, de raiz clássica, confere-lhe um estatuto à parte, de uma certa superioridade, nos meios R&B, hip-hop e neo-soul em que se move. Isso começa por se notar nos discos, em que as teclas chegam a declinar um ou outro tom mais clássico. Ao vivo, o piano como que dispensa das encenações e danças musculadas, como, por exemplo, as de Beyonce.
Essa classe de Alicia tem, no entanto, um senão - a frieza, tanto mais estranha quanto estamos num estilo musical em que tudo é calor, a começar pelo humano, tudo é expansivo. Alicia leva tanto a sério a sua música, que se “esquece” de ser sedutora, de insinuar.
Junte-se tudo isto e temos, como alguém disse, uma artista que não sua em palco. Ou que, pelo menos, não transforma cada espectáculo numa exibicionismo de ginásio, tão em voga, especialmente entre as vozes femininas.
Conclusão: os espectáculos de Alicia Keys são uma sensaboria? Não necessariamente. São apenas concertos em que a vertente musical ainda impera sobre a visual. Não estamos perante uma Madonna, ou sequer uma Beyonce.
Esta sua terceira passagem por Portugal será centrada no último disco (The Element Of Freedom, 2009), que, a propósito, está longe de ser o mais interessante da sua carreira. Obviamente, os sucessos anteriores serão os mais requisitados pela plateia.
No Pavilhão Atlântico, o sucesso jogar-se-á, acima de tudo, nos músicos e nos arranjos com que vestirão cada tema. E, claro, mais na voz que na movimentação em palco de Alicia.

She & Him - Volume Two ***


É mentira. Nunca fomos assim tão felizes. Escusam de vir para cá com esses coros afinadinhos, as pandeiretas, os solos de guitarra bem comportados, os violinos celestiais, essa vozinha adolescente, quase púbere... Mas que fazer, se a nostalgia é isso mesmo, um passado mais que perfeito?
Zooey Deschanel, actriz, e M. Ward, músico e produtor folk, encaram a nostalgia com muito profissionalismo. Ela escreve cantigas lindas, à moda dos anos 60 e 70 (Carpenters, lembram-se?) e ele veste-as como se o tempo tivesse parado. Tudo tão certinho, até mesmo quando a voz dela quase fraqueja e faz lembrar uma menina, toda ela inocente.
Neste segundo volume, igualzinho ao primeiro (2008), há canções perfeitas (“Thieves”, “Lingering Still”), outras assim-assim (“Sing”) e ainda algumas que fogem ligeiramente ao registo e até parecem canções de autor (“Brand New Shoes”).
A coisa, globalmente, é refrescante, adequada para a época. Mas o consumo em doses repetidas pode provocar algum enjoo.

Jakob Dylan - Woman + Country ***

Quem não quer, ou não pode, ser lobo não lhe veste a pele. Jakob é filho de Dylan, mas Dylan não se chama Dylan e Jakob fez questão de lhe herdar o pseudónimo. O que é, creiam, um aborrecimento. A cada crítica, lá temos que alertar que Jakob é filho de Bob e fazer comparações – o rapaz também tem a voz enevoada e as águas blues-country clássicas são as mesmas em que o pai mergulhou na última década.
Um aborrecimento, creiam. Porque Jakob tem, apesar de tudo, uma voz própria, no sentido mais amplo da expressão, como já tinha demonstrado na experiência colectiva com os Wallflower. E porque esta segunda gravação a solo está uns furos acima da monocórdica estreia a solo (Seeing Things, de 2008), talvez mercê da troca de produtor – Jack Rubin deu lugar aos mais lunático T Bone Burnett. O resultado são canções com mais densidade, às quais os metais e as cordas conferem uma espessura que talvez falte à relativamente banal composição. Por isso mesmo, “Lend a Hand” e “Standing Eight Count” sejam duas das canções que mais ficam no ouvido, a par, talvez das duas baladazinhas de abertura.

Emma Pollock - The Law Of Large Numbers ***

De pessoas como Emma Pollock costuma dizer-se que têm uma voz muito própria - por mais voltas que se dê, não se conseguem catalogar. É o caso de Emma, uma compositora e cantora escocesa, que consegue juntar numa mesma canção estilos, ritmos, instrumentos, talvez influências, completamente distintas.
Esta é a segunda gravação a solo (a anterior data de 2007: Watch The Fireworks), mas Emma Pollock era já uma das almas dos escoceses Delgados, uma banda de relativo sucesso na viragem da década anterior.
Neste CD de título enigmático (a própria autora confessa não ter a mínima ideia do que quer dizer), há pop quase a pedir top (“Confessions”, ou “I Could Be A Saint”), mas igualmente baladas folk de beleza refinada (“House On The Hill”), números de neo-vaudeville (“Nine Lives”) e até pequenas pérolas de brincadeira (“Red Orange Green”). Tudo envolto em guitarras, muitas mas elegantes, pianos e até cordas. Uma voz muito própria, de facto.