Lisa Ekdahl - At the Olympia ***

Esqueçam o Olympia. Nos dias que correm, qualquer um lá chega. Nesta edição, a parte mais valiosa é o DVD, todo filmado a preto e branco, em que há, é verdade, Paris, mas acima de tudo os ensaios, os encontros, as canções, no conforto da casa de Lisa, entre amigos, algures na Suécia natal. É claro – não sejamos ingénuos – nada disto é espontâneo. Afinal de contas, meteram lá em casa uma equipa de televisão. Mesmo assim, há um doce aroma a improviso, ou, se quiserem, a reinvenção, em canções como “The World Keeps Turning” ou “Sing” que suplanta o tal espectáculo do Olympia. Mas, já que o disco se chama “At The Olympia”, convém referir que, além de algumas canções no DVD, temos direito a um CD áudio todo ele made in Paris. Nada que não conheçamos – Lisa já passou mais que uma vez por cá -, ou seja, aquele jazz muito ligeiro, bossa à mistura, e aquele fio de voz que limpa as canções de Cole Porter de qualquer traço de Sinatra.

The Unthanks - Last ****

A melancolia como forma de arte. Êxtase para os adeptos das coisas tântricas, um desespero para o resto dos mortais. Há oito anos e quatro discos que as manas Unthanks se dedicam à obsessiva tarefa de espalhar a tristeza pela face da Terra. As canções, muitas delas tradicionais, outras de autores mais ou menos famosos, e ainda outra originais, são submetidas a um eficaz processo de desaceleração rítmica, embrulhadas em esparsas orquestrações e depois passadas pelas vozes encantatórias de Rachel e Becky, quais sereias da folk britânica, atraindo-nos para abismos imensos.
Neste Last, o trabalho de orquestração é particularmente meticuloso, por exemplo transfigurando “Starless” (dos King Crimson) numa canção de beleza sufocante. Já “No One Knows I’m Gone” (de Tom Waits) resulta relativamente banal. “Close the Coalhouse Door” entra por caminhos complicados,  tornando talvez demasiado próximo o drama dos mineiros. Não é para todos.

Jessica Lea Mayfield - Tell Me ****

Um disco complexo. Talvez assuste. Mas muito sedutor, e isso muda tudo. Aos 21 anos e ao segundo disco, Jessica Lea Mayfield revela uma poética experiente, capaz de lidar com os mais tortuosos sentimentos. Embalados pela fragilidade preguiçosa da voz, somos amiúde atraídos para autênticas armadilhas de sedução, às quais, sim, nem falta alguma evidente carnalidade. E é preciso frisar esse primado do texto, para que não sejamos (dis)traídos  pelo autêntico caleidoscópio em que o produtor Dan Auerbach (dos Black Keys) transformou este exercício, surpreendentemente, sem pôr em perigo o conjunto. E é assim que viajamos pelo mais puro pop (“Blue Skies Again”), a electrónica pouco sofisticada (“Grown Man”), ou momentos de grande intensidade, como “Run Myself Into The Ground”, passando pela revisitação da country (“Sometimes At Night”). As guitarras, um tanto desgrenhadas, a par da voz, claro, acabam por ser a corrente que dá coerência ao conjunto.