Robin McKelle & The Flytones - Heart of Memphis ***

O ponto de partida é uma espécie de homenagem à Stax, uma das rivais da Motown no soul dos anos 60 e 70, mas o disco acaba por não se ficar pela influência da editora de Memphis. Claro que a marca de água da Stax domina a paisagem: órgão, metais, guitarra eléctrica e uma secção rítimica bem mais funky que o som de Detroit. O tema que dá título ao disco, "Like a River" e, por exemplo, "Down With The Ship" são exemplos perfeitos da recuperação dessa sonoridade. Ainda da Stax, mas um registo menos marcado, a versão de "Forgetting You", uma justa evocação de Otis Redding, o peso pesado da casa de Memphis. Mas, por exemplo, "Good Time" evoca instantaneamente os tempos dourados de Ike & Tina Turner, enquanto que a versão de "Don't Let Me Be Misunderstood" é Animals (ou Eric Burdon) do mais descarado. Ao terceiro disco, Robin McKelle acentua a viragem, já antes ensaiada, do jazz para um território exclusivamente soul. Com balanço positivo.

Metronomy - Love Letters ****

Os improvisos, como se sabe, dão muito trabalho a preparar. É como a música dos Metronomy: esta electrónica deliberadamente 'lo-fi' necessitou de um estúdio analógico para que todos os sons saíssem claros mas redondos. Esta depuração, como que um burilar de 'demos', é a marca de água do quarteto inglês. O resultado é uma pop dançante ("Reservoir"), mas ainda assim melancólica, ou não girasse todo o disco em torno da temática do desencontro (amoroso, claro está), a raiar o desespero, a angústia mesmo - ouça-se, por exemplo, o martelar do refrão em "I'm Aquarius". Quer na composição, que especialmente na encenação, as canções devem muito à Motown (exemplo máximo: o tema que dá nome ao disco), com paragens mais ou menos evidentes nos anos 80 ("Reservoir" poderia estar num disco dos Orchestral Manoeuvres in The Dark). Espantosamente, é uma música que sobrevive, e bem, ao calculismo notório da sua construção.

Real Estate - Atlas ****

Música sem peneiras. Directa, cristalina, despretensiosa. São assim os Real Estate. E agora o paradoxo: mantendo-se tudo na mesma neste terceiro disco - na verdade, melhorando, mercê de uma produção mais profissional, que torna a teia sonora ainda mais límpida -, há uma densidade oriunda do que é cantado que obriga a olhar para a banda com outros olhos. Até aqui, o dedilhar permanente da guitarra entrelaçado com uma voz quase etérea tinha correspondência directa em letras também elas luminosas, sem arestas. Agora, porém, os temas são mais adultos, falam de ausências, de dores de crescimento, de afastamentos... "How Might I Live" é, talvez, o expoente máximo dessa reviravolta temática, mas todo o disco deve bastante à melancolia. O que, bem vistas as coisas, não assenta nada mal no som primitivo da banda. Mesmo "Talking Backwards", o tema mais pop, ou até o instrumental "April's Song" são evidentemente nostálgicos.