The National - Trouble Will Find Me ****

No seu trabalho mais recente (Heaven), os Walkmen fizeram-se fotografar na contracapa com uma data de filhos. Agora são os National que ocupam uma página do booklet de Trouble Will Find Me com uma dedicatória à múltipla descendência. Estarão as bandas fetiche dos jovens adultos ilustrados a calçar as pantufas? Depois da saída do armário, da indie e do culto, que representou o assinalável sucesso de High Violet (2010), os National tinham tudo para deitar tudo a perder, especialmente se optassem pela auto-contemplação da repetição. O perigo tinha pernas para andar - a banda sempre jogou na exploração de sonoridades intensas, mas minimais e repetitivas. Aliás, muita da intensidade da sua música deriva do trabalho da percussão, por natureza repetitiva. Neste disco, o perigo espreita, nem tanto o da repetição, antes o de alguma banalidade. Por exemplo, "Humiliation" anda ali nas margens do aborrecimento, perdida algures entre os U2 e os Coldplay. Mas é, felizmente, a excepção. O resto disco é todo ele um trabalho de maturada depuração das tensões e catarses, lirismo e ironia, corações partidos e charadas metafóricas que fazem, a que voz de Matt Berninger dá uma espessura e uma gravidade únicas. A grande canção do disco é seguramente "Pink Rabbits", um daqueles temas de amor radical, impossível e maravilhoso que a banda conduz a um clímax que nunca mais chega, mas que vai sabendo bem enquanto demora. "Fireproof" é outra pequena pérola: guitarras e percussão, paralelas e desencontradas, até no ritmo, salvas pelas cordas. Os cultores dos clássicos terão sempre "Demons", uma coisa tão National que até chateia. Ah, e aquela coisa das pantufas, sempre é verdade? Mas que raio de pergunta. Parece um verso do Berninger.

A tradição é para reinventar - Cool Jazz 2013


Se há coisa de que estes quatro não podem ser acusados é de terem parado no tempo. Manuel Morgado apresenta os nomes que encerram o EDP Cool Jazz

Diana Krall conquistou já um daqueles lugares a partir dos quais todos os outros se definem. Uma artista de referência, portanto. Há quem a imite, quem apenas se deixe influenciar, quem procure diferenciar-se. Ninguém, no mundo do jazz pop, lhe fica indiferente. Foi logo assim quando, em 1993, começou por irritar os puristas do jazz, simplesmente porque era branca, gira e cantava bem. Ainda faz tudo isso, até melhor, levando agora mais longe o luxo de fazer o que bem lhe apetece. O último disco, Glad Rag Doll (2012) é uma colecção de temas dos anos 20 e 30, produzidos pelo mago do R&B e soul T-Bone Burnett. Guitarras, em vez de cordas, piano rock'&'roll, em vez de piano jazz. Outros standards.

Rufus [Wainwright] em palco é sempre uma experiência surpreendente. Tanto mais quanto, desta vez, volta a solo, ao piano, o que certamente beneficiará sobremaneira aqueles diálogos com o público que marcam os seus concertos. O último disco (Out Of The Game, 2012) não é propriamente dos mais entusiasmantes da sua carreira, revelando mesmo algum cansaço, especialmente na composição, que nem a produção omnipresente de Mark Ronson consegue esconder. Os últimos anos foram, de resto, entregues a algum experimentalismo, como se Rufus quisesse demonstrar que é ainda algo mais do que um dos mais talentosos e seguros da sua geração. Revisitar uma tal carreira em registo intimista é coisa para resultar mais que bem.

Que Jamie [Cullum] virá desta vez? O Jamie dos clássicos em registo clássico, muito piano, cordas e voz serena? Ou o Jamie do último disco, todo ele irrequieto, a piscar o olho à electrónica, até às pistas de dança? Momentum (2013) é, de facto, uma obra de ruptura, como se o ídolo dos adolescentes tivesse chegado à conclusão de que as canções com que se tornou conhecido estavam a ficar demasiado limitadas. Ao vivo, é natural que acabe por vencer a versão tradicional, de mais fácil execução, e - talvez - a que dá mais garantias de agradar à audiência. De qualquer forma, Jamie, apesar das aparências, é já um intérprete com créditos firmados e, logo, com legitimidade para mandar dançar a seu bel prazer.

Herdeiro da tradição soul com empenhamento político, John Legend tem vindo a registar sucessos assinaláveis, depois de, em 2004, ter gravado o primeiro disco à sombra da constelação Kanye West. Pratica uma música eléctrica e electrizante, talvez apelo explícito à dança em noites de Verão. Essa característica é especialmente audível no último disco, Wake Up (2010), com os Roots, um exercício que deve quase tudo ao funk. O disco é, de resto, o mais politizado de toda a carreira, na qual são privilegiadas as canções de soul clássico, servidas por uma voz possante e arranjos dignos dos grandes dessa corrente musical. Estreia de palco em Portugal e uma boa oportunidade para ouvir um músico pouco rodado por cá.