Joan as a Police Woman - Damned Devotion ***

Ah, as agruras e belezas e contradições do amor. Poemas e poemas disto, livros, tratados e discos. Muitos discos. Joan Wasser, aka Police Woman, não faz outra coisa, há 12 anos e cinco discos, seis com este que agora se apresenta. “I’m told that wounds are where the light gets in”, canta Joan em “The Silence”, parafraseado Cohen, e fica feita a declaração de princípios sobre as águas em que se movem estas 12 canções. E se na temática tudo se mantém igual, já na frente estilística esta edição representa um regresso às orquestrações densas, pastosas, indolentes, depois da intensa luminosidade soul de “The Classic”, de 2014. A electrónica é o cimento que tudo agrega, quase rivalizando com a secção rítmica, em movimentos pendulares entre a recitação compassada e descargas catárticas (“Valid Jagger”). Sobre tudo isto, a voz, ou melhor, as vozes de Joan, em registos de uma elasticidade pouco comum na pop.

Nadia Schilling - Above the Trees ****

Não viria mal ao mundo se este disco fosse promovido à boleia do sucesso de Salvador Sobral. Os fins justificam os meios e é de aproveitar, agora que os portugueses parecem estar disponíveis para ouvir canções, digamos, menos comerciais. A música de Nadia Schilling inscreve-se numa corrente – Márcia, Minta & The Brook Trout... –, em que melodia e melancolia andam a par, em que o intimismo das letras contracena com uma instrumentação muito cuidada e atenta aos pormenores. Ouça-se a subtileza do piano de Filipe Melo em “Gloom Song”, ou as guitarras, por exemplo, em “Bad as Me” ou “Misfire”. Mas ouçam-se especialmente as cordas em quase todo o disco (“Kite” é uma boa amostra), que paradoxalmente funcionam como elemento iluminador num disco que nasce de uma dor, a morte da mãe. Começo muito auspicioso em grande formato – e aqui vai bem um pouco de trivia – para esta arquitecta paisagista nascida há três década e meia nas Caldas da Rainha.

N.E.R.D - No One Really Dies **

Muita coisa aconteceu nos sete anos em que os N.E.R.D estiveram silenciosos. Na verdade, quando os N.E.R.D ainda estavam activos já muito coisa lhes passava ao lado, daí que esse derradeiro esforço, “Nothing” (2010), pouco ou nada conte para a história. Os “side projects” têm, normalmente, razões ou objectivos muito concretos. Este, de Pharrell Williams (Chad Hugo e Shay Haley desempenham um papel relativamente secundário, como fica evidente neste disco), era suposto funcionar como uma montra de algum virtuosismo de composição e produção, com epicentro no hip-hop e na electrónica, mas absorvendo tudo à sua volta. Ora, para projecto-montra, este CD é particularmente decepcionante, porque se trata de uma montra com produtos repetidos, gastos, em saldo. O início, com Rihanna (“Lemon), ainda promete, o funk de Kendrik Lamar (“Don’t Don’t Do It”) cumpre sem surpresa, mas o resto é demasiado “déjà” vu para justificar a quebra do silêncio.