Lizz Wright - The Orchard *****

Começando pelo princípio, é assim: “Coming Home” é um gospel; “My Heart” é uma canção fabulosa merecedora de qualquer top; “I Idolize You”, original de Ike Turner, é um blues bem puxado, a lembrar mais as versões brancas do final dos anos sessenta que os originais negros; “Hey Mann” é tão country que até tem slide guitar; em “Another Angel” juro que se sente, a cada segundo, a respiração de Joni Mitchell; “When I Fall” é cantada da maneira que Joss Stone gostará de cantar quando for crescida… e depois há ainda mais umas baladas quase folk e um jazz soft, elegante, que pede alta fidelidade. Em todos os sentidos.

Mas quer isto dizer que Lizz Wright é um compacto de imitações? Nada disso. Estamos perante uma das vozes mais belas da década, trabalhada profissionalmente após os anos de descoberta na igreja onde o pai pregava a fé. Uma voz forte, possante, mas aveludada, colocada em destaque por orquestrações do mais cuidado que por aí se ouve.
E a provar essa originalidade, há ainda o facto de, ao terceiro disco, Lizz co-assinar oito das 13 canções, após Salt (2003) e, principalmente, Dreaming Wide Awake (2005), em que privilegiou os standards. Aqui, além de Ike Turner, revisitamos os Led Zeppelin, com “Thank You”, como se fosse necessário demonstrar as raízes negras de tudo aquilo, ou um sempre emotivo “It Makes No Difference”, dos The Band.
Mas a belíssima balada “Song for Mia”, ou a swingante “Leave Me Standing Alone” sairam da pena de Lizz Wright e merecem ombrear com alguns dos clássicos deste Orchard.
Será uma pena que um disco destes se perca na confusão de prateleiras das discotecas. Porque é do melhor jazz, mas também da melhor soul e da melhor pop que a América tem agora para dar.

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