Emmylou Harris - All I Intended To Be ****

Será certamente caso para um estudo psico-socio-musicológico: a idade parece ter efeitos altamente benéficos nos autores e cantores da música pop e arredores, precisamente aquela que mais alimenta o mito da eterna juventude. E, se calhar, o segredo é mesmo esse.
Emmylou Harris não foge à regra. Após o enorme sucesso no papel da loira mais gira do country, nas décadas de 70 e 80, ei-la que renasceu, já os anos 90 iam altos, no papel de autora inspirada. E, como prova este All I Intended To Be, parece que os anos – anda nos 61 – lhe fazem milagres à voz. Está mais encorpada, menos estridente.
Este é um disco um tanto traiçoeiro, não digam que não foram avisados. Por detrás da graciosidade das belíssimas orquestrações acústicas vagueia, imagine-se, a morte. Presente explicitamente em pelo menos duas canções (“Not Enough” e “Sailing Round the Room”), mas atravessando outros temas, sob a forma de separações, saudades e outros lados escuros da vida.
É um disco que olha para trás. Brian Ahern, que produziu os sucessos dos 70, está de volta e, com ele, uma country mais explícita do que a presente nas últimas gravações de Emmylou. Mas este é, também, um disco de quem aprendeu as lições da vida, que assume alguma nostalgia, também alguma angústia pelo que aí possa vir. Descansem, porém: fá-lo sempre de uma forma pouco pesada, com a leveza, não confundir com ligeireza, do country.
Emmylou assina ou co-assina (por exemplo, com Kate e Anna McGarrigle, que também dão um arzinho da sua graça) metade dos temas do disco, sendo a outra metade dedicada a covers, nem sempre, evidentes de, por exemplo, Tracy Chapman ou Merle Haggard.
Para ouvir descontraídamente. Ou nem por isso. É à escolha do freguês.

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