Sharleen Spiteri - Melody ****

Estão a ver a Nancy Sinatra de mini-saia e botas de cano alto? É a primeira faixa: “It Was You”. E aqueles acordes iniciais das canções das Supremes? É a segunda faixa: “All The Times I Cried”. E conseguem imaginar aquela “parede de som” que se tornou a marca de água de Phil Spector? É a faixa número três: “Stop, I Don’t Love You Anymore”. E…?
Poderíamos continuar assim, pelas 11 canções deste disco de Sharleen Spiteri. Ah... é verdade, já me esquecia de apresentar a Sharleen. Olhem bem para a capa… Isso, a vocalista dos Texas. Estão a ver? Aquela rapariga de voz sensual, líder de um grupo escocês (1986-2005), em cujos vídeos geralmente só aparecia ela, em poses também elas sensuais.
Pois a voz de Sharleen adapta-se que nem uma luva a esta pose revivalista, qual Amy Winehouse sem drogas, ou Duffy mais experiente. Digamos que este Melody é assim uma espécie de Motown e arredores condensados em 40 minutos.
O exercício é relativamente arriscado. As coisas têm o seu tempo e, apesar de a certa altura se ter transformado numa cadeia de produção, a Motown era simplesmente genial. Até ter entrado em decadência. “Melody” vai tão longe na simulação que, de modo seguramente involuntário, chega a imitar essa fase menos boa (“Day Tripping”, por exemplo). E também é verdade que, por vezes, os Texas parecem querer ombrear com a velha escola da música negra (“Don’t Keep Me Waiting”).
Mas o resultado afinal é, acima de tudo, agradável. Em tempos tão conturbados, sabe bem ouvir música cujo único fim é divertir. Sem mais pretensões que não sejam as de uma produção muito cuidada, das orquestrações à capa. A certo tipo de música não se deve exigir mais do que ela pode dar.

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