Bob Dylan - Christmas In The Heart ***

Dylan é uma lenda americana e às vezes, ofuscados pelo seu universalismo, tendemos a esquecer isso. Eis, então, um disco que nos recorda esse verdade essencial, um disco típico de uma lenda viva americana. Armstrong, Elvis, Sinatra e tantos, tantos outros, uns que foram lendas e outros que o tentaram ser, também gravaram os seus discos de Natal
Dylan tinha, pelo menos, duas maneiras de atacar o problema – fazer um disco de Natal, ou fazer um disco de Dylan. Optou por fazer um disco de Natal, o que só surpreende quem não o tem acompanhado atentamente. O ídolo que nos anos 60 recusou liderar a revolução, o músico maduro que, de tanto se reinventar, accionou a máquina do tempo e reencarnou os anos 40 e 50, como se nada tivesse havido depois. São assim os discos da última década.
E este disco de Natal insere-se precisamente nesse espírito, na ideia de uma certa imortalidade, de alguém para quem o conceito de geração já não faz sentido, porque ele mesmo é a ponte entre todas as gerações.
A sonoridade deste disco é idêntica à das suas últimas gravações, uma recriação dos sons acústicos dos anos 50, com algum country, algum jazz de salão, algum blues. Desenganem-se, pois, os que aqui vierem à procura de novidade – isto são apenas 15 hinos tradicionais de Natal, com instrumentos tradicionais de Natal, coros femininos e masculinos de Natal e… a voz de Dylan.
“Must Be Santa”, numa versão alucinada com o acordeão de David Hidalgo (Los Lobos), é a pequena loucura do disco. “The Christmas Blues”, num arrastado blues, poderia ter entrado em qualquer dos seus discos da última década. E depois há, é claro, aquela aventura de cantar “O’ Come All Ye Faithfull” em latim (!).
Todos os lucros do disco serão destinados a organizações humanitárias. É o que costumam fazer todas as lendas americanas. Obrigado Santa Dylan.

Sem comentários: