Rod Stewart - Soulbook **

Uma das coisas mais deliciosas deste disco é a linha de baixo de “(Your Love Keeps Me Lifting Me) Higher and Higher”. A força e a suavidade, sim, a força e a suavidade, daquele baixo não eram possíveis em 1967, quando Jackie Wilson gravou a primeira versão.
Esses prodígios da era digital – é disso que se trata –, têm, todavia, os seus efeitos nefastos. A pureza do som é uma espécie de droga, que pede sempre mais e inebria, e alguma da música que hoje se ouve deve muita da sua vivacidade mais aos artifícios da técnica que à inspiração, sendo exemplo disso a praga de revivalismo R&B que ataca os tops de todo o mundo.
E é o caso deste CD do mais famoso canastrão da história da pop. Nada, nadinha mesmo, neste disco é original. Pelo contrário – o que se procurou fazer foram cópias dos originais, sublinhadas por gravações de enorme pureza instrumental, numa espécie de hiper-realismo musical. Simplificando, Rod Stewart mandou fazer umas cópias catitas dos arranjos originais e depois, qual amante do karaoke, meteu-lhes a voz. E, pese embora a peculiaridade dessa voz, a verdade é que ela já teve melhores dias, muito melhores dias.
Exemplo perfeito desse mimetismo é o convite dirigido a Stevie Wonder para reproduzir o mesmíssimo acompanhamento de harmónica do seu “My Cherie Amour”. Ou a presença, quase simbólica de tão discreta, de Smokey Robinson. A Motown forneceu, de resto, cerca de metade da matéria-prima deste disco, o que deriva do peso da editora no panorama da soul, mas também diz muito sobre as intenções deste disco: filet mignon à medida dos tops.
Obviamente, um disco destes não desilude. Cumpre exactamente o papel para que foi feito – easy listening para pessoas de gosto requintado. Seja isso lá o que for.

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