Susan Boyle - I Dreamed A Dream ***

Um dia destes, no Ídolos que passa na televisão portuguesa, ouviu-se “Hallelujah” numa versão cuja principal virtualidade era de apenas durar um minuto e meio e, assim, reduzir consideravelmente os danos. Não admira. Foi a partir de um programa do mesmo tipo que uma das mais simbólicas canções de Cohen subiu recentemente aos tops britânicos. E, claro, há ainda os miúdos que agora estão no início da adolescência e que adivinham “Hallelujah” pelos primeiros acordes depois de a terem ouvido, pela voz de Rufus Wainwright (!?), na banda sonora do primeiro Shrek (!!!).


Dá que pensar, convenhamos. Como uma canção mística, que é ouvida em prece pelos adoradores de Cohen, é repentinamente convertida em algo digno de concorrer com lituanos e moldavos no Eurofestival. Questões de gosto, que os leitores da Time Out certamente gostarão de discutir entre si, mas que não terão paciência para ler na página de críticas de discos. Ainda por cima, Susan Boyle (ainda) não canta “Hallelujah”.

Lembram-se, certamente, da dona de casa escocesa que encantou o júri de um desses tais programas de imitações britânico? O primeiro disco vai buscar a canção que a tornou famosa (“I Dreamed a Dream”) e junta-lhe uma dezena de outros sucessos pop cantados à la Celine Dion, com a vantagem (Aleluia!) de Susan não ser tão estridente quanto o original.

E o que dizer destas versões, senão que são, sim, domesticadas? E que a voz de Susan Boyle é, de facto, muito boa e que, às vezes, até consegue fingir que sente aquilo que canta?

Tendo em conta a tarefa a que meteram ombros – ganhar uns cobres, reproduzindo o mesmo esquema até que se esgote –, os artífices da coisa estão de parabéns. E, na verdade, quem quiser ouvir uma boa versão de “Wild Horses” tem o original dos Stones. Ninguém chega aqui por engano.

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