Este é um daqueles discos a que se chega por engano. Philip
Selway é baterista dos Radiohead e, nessa qualidade, até costuma figurar entre
os melhores da actualidade. Mas neste disco não toca bateria e poucos serão os
fãs da banda britânica que acharão o mínimo de graça a estas canções.
Este é um disco sobre as famílias, para ouvir sossegado em
casa, em família ou a sós, de preferência numa alta fidelidade, que a
delicadeza dos sons assim o exige.
Selway toca guitarra acústica (a pouca bateria que por aqui
se ouve ficou a cargo de Glenn Kotche, dos Wilco) e canta. E essa é a primeira
grande surpresa. É verdade que há outros baterias que cantam (Phil Collins até
enriqueceu com a brincadeira), mas a voz de Selway revela-se muito agradável,
seja em sussurro, seja em quase falsetto, seja num registo mais normal.
A outra grande surpresa são as canções, elas próprias. Todas
escritas por Selway e todas muito interessantes e belas, uma conjugação mais
rara do que se julga. Há memórias da mãe, falecida há poucos anos (“Broken
Promisses”), diálogos com o(s) filho(s) (“The Ties That Bind US”) e canções
sobre as escolhas que a vida nos põe pela frente (“A Simple Life”).
O registo deriva directamente do folk, parecendo por vezes
que somos transportados para o final dos anos 60, ou década de 70. Com a
“ligeira” diferença de que raramente as canções surgem na sua forma mais
primitiva. Com toda a subtileza do mundo, surgem arranjos, que passam por coros
muito serenos, alguma electrónica esparsa e até, aqui ou ali, elemento
orquestrais mais clássicos. Mas sempre, sempre, com uma leveza e um bom gosto
extremo, o que torna a audição do disco num exercício algures entre a
(auto)contemplação e o puro prazer estético.
Resta dizer que alguns portugueses já terão tido contacto
com estas canções, quando, em Maio, Philip Selway passou pelo CCB, na companhia
de Lisa Germano, e do baixista Sebastian Steinberg, que colaboram neste Familial.