Há, é certo, muita tecnologia envolvida. Mas a essência está
lá. E o que mais espanta é isso mesmo – como consegue alguém encher um palco,
uma sala, com uma voz, com todas as vibrações e subtilezas de uma voz. A voz de
Regina Spektor merece toda a tecnologia do mundo, tal é o cuidado posto na sua
modulação, os trinados, os sussurros, as explosões, a alegria de cantar. A voz
está para Regina como o corpo e os artifícios cénicos estão para as beyoncés e
as gagás – é ela, a voz, que enche o palco, é dela que emana toda a
espectacularidade. Percebe-se isso ouvindo o CD, mas tudo se torna muito mais
evidente quando se assiste ao registo vídeo em DVD, todo ele construído à volta
dos grandes planos dos lábios de Regina. Por mais que o corpo cresça e se
balanceie ao piano, é na voz, nos lábios, que tudo se concentra. É aí que
reside a coreografia essencial desta música.
O pacote inclui os dois suportes (CD e DVD) resultantes de
uma actuação, em Dezembro de 2009, no Hammersmith Apollo, de Londres. As
canções são mais ou menos as mesmas (especial incidência na última gravação em
estúdio, Far, de 2009), embora o
alinhamento não seja idêntico. No DVD, intercalaram as canções com cenas de
bastidores e da digressão, uma opção discutível, na medida em que terá sido
sacrificada a relação entre a artista e o público.
Os fãs de Regina encontram aqui canções raras, como “Love,
You’re A Whore”, os simples mortais têm aqui um excelente “Regina para
principiantes”, uma colectânea do melhor dos seus três discos, interpretado
como se de uma gravação de estúdio se tratasse. E nunca será demais salientar
que tudo isto é conseguido apenas com um piano (às vezes, uma guitarra), um
quarteto de cordas e uma bateria. E, claro, a voz.