Então a Amy Winehouse nunca mais tem disco novo? Bom, isso
agora não interessa nada, até porque não é dela que vamos falar. A Amy só vem à
memória porque Adele – as coisas que os magos do marketing inventam – foi
considerada a nova Amy, quando apareceu, vai para três anos. Na verdade, à
semelhança de outras britânicas, como Duffy, também Adele é uma espécie de
“filha” comercial de Amy, especialmente pela exploração do filão do
revivalismo.
Mas a verdade é que – ah, ah – Amy não tem disco novo e
Adele tem. O primeiro chamava-se 19 e
recebeu uns Grammys. Este chama-se 21
(que original…) e, se não ganhar prémios, vai pelo menos engrossar
violentamente a conta bancária da autora.
Adivinham-se sucessos atrás de sucessos com várias das canções aqui
presentes.
Este disco consagra uma autora muito acima da média e uma
intérprete peculiar. A voz de Adele é bonita, mas tem vulnerabilidades, que ela
consegue valorizar, encaixando-as no fraseado, transformando nota falsas em
estilo.
Há aqui revivalismo em doses consideráveis – o tema de
abertura e primeiro single, “Rolling In The Deep” é uma explosão de disco e
gospel – mas há, acima de tudo, um classicismo feito de doses equilibradas de
elegância e emoção. O amor – melhor, o desamor, as separações – são a
matéria-prima destas canções, com “Someone Like You” (piano e voz, apenas) a
revelar-se desde já como um dos clássicos nessa matéria.
A produção, por onde anda Rick Rubin – há em todo o disco
apontamentos americanos, que fazem antever uma aposta comercial forte no outro
lado do Atlântico -, é toda conduzida para deixar fluir a voz, não se
dispensando, no entanto, de uns coros pujantes e de alguns momentos de grande
beleza, seja apenas no piano, seja em curtos trechos de cordas.