Katie Melua é uma rapariga confiável. E cabe a cada um fazer o julgamento, ou gosta assim mesmo, ou sabe-lhe a pouco. Os portugueses parecem filiar-se no primeiro grupo, se tivermos em conta que Katie é relativamente popular cá pelo burgo. Confiável porque, não sendo propriamente uma autora e intérprete de primeira grandeza, cumpre mais que os mínimos e não costuma desiludir.
São assim os seus discos: agradáveis, nunca demasiado
surpreendentes, mas também nunca abaixo da linha de água. Por cá, o sucesso
deu-se ao segundo e terceiro disco, Piece
by Piece (2005) e Pictures
(2007), sendo que o mais recente, Horses
(2010), talvez só agora, com os concertos de Lisboa e do Porto, saia do
armário.
Apoiada pelo produtor William Orbit (o mago da fase mais
electrónica de Madonna), Katie tenta, em Horses,
alargar horizontes para lá da imagem folk
e jazzy que marcou os primeiros anos
de carreira. Está agora mais atmosférica, nuns casos, mais opulenta, noutros.
Obviamente, são coisas que casam, o jazz e o folk, com a
electrónica e não virá mal ao mundo se, na passagem por Portugal, alguns dos
clássicos (“The Closest Thing To Crazy” ou “Nine Million Bicycles” surgirem com
roupagens diferentes. Até porque, ao vivo, Katie costuma imprimir uma grande
carga dramática, por vezes quase operática, a cada interpretação, fazendo
normalmente esquecer o original. É isso que torna cada espectáculo de Katie
Melua apetecível, não apenas para os fãs, mas igualmente para um público mais
vasto. Aquele a quem bastam artistas confiáveis, é claro.