David Lynch - Crazy Clown Time **

Não, caro David, isto não resultou. A ideia de transpor para a música a estética negra e maníaca dos seus filmes era interessante, tinha (e tem) potencial. Mas, admita, era projecto para um profissional. Ou então para um desses jovens que parecem ter absorvido toda a história da música pop-rock nos biberons da infância. O falhanço explica-se de forma muito linear: o David escreveu, produziu e interpretou (instrumentos e voz) todas as canções deste disco. Repare: as canções não são nada de especial. Ouça, por exemplo, “Noah’s Ark” – isto é um esboço, bolas, não uma canção. Na generalidade, as letras são pobres e a composição anda, no mínimo perdida. E depois há o embrulho. E aí, sinceramente, parece que tentou esconder a falta de criatividade num amadorismo demasiado explícito. Os vários cobertores electrónicos que envolvem as canções são totalmente dejà vu e, creia, aborrecidos. Como a sua voz, David. Você não canta – uma opção, é certo – mas a sua declamação persistentemente distorcida pelo vocoder causa um certo formigueiro nos pés, vontade de fugir (seria essa a ideia?). Safa-se no meio de tudo isto a abertura (“Pinky’s Dream”), com a convidada Karen O (dos Yeah Yeah Yeahs), os quatro minutos do disco mais parecidos com uma canção – há melodia, há intensidade, sem que nos afastemos do universo lynchiano. E há , por exemplo, “Football Game”, ou “The Night Bell With Lightning” (um instrumental…), com uma base blues e uma sonoridade de guitarra com potencial para exploração em possíveis novas aventuras no campo da música. Pois é, David, essa ideia de criar uma marca Lynch transversal (parece que até vende café no seu site…) precisa de mais qualquer coisa na música. Pode continuar a tentar, é claro.