Mark Lanegan - Imitations ****

Mexer na ferida, deitar-lhe sal, pode ser a melhor das curas. E para que seja grandiosa, a cura exige grandes feridas, no caso, grandes canções. Uma grande e funda solidão não pode ser cantada de ânimo leve, exige que se convoquem os clássicos, que se exorcize com o que de melhor os melhores tenham produzido. Isso mesmo deverá ter pensado Mark Lanegan, quando decidiu reinterpretar 12 canções em que a palavra solidão se expõe logo no título, ou mais insidiosamente se infiltra pelas estrofes. Lanegan tem vindo a afirmar-se como um intérprete de eleição, nem tanto pela qualidade e técnica vocal, mais pela emoção com que se apropria das canções. É isso que faz com "Brompton Oraty" (Nick Cave), numa leitura baseada em metais, ou "I'm Not The Loving Kind" (John Cale), com orquestra à séria, ou com "You Only Live Twice" (John Barry para Nancy Sinatra). Um trabalho de reinvenção, que acaba por ser a negação do título do disco.

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