You Can't Win, Charlie Brown - Diffraction/Refraction *****

Imaginem que os Grizzly Bear se cruzam em Lisboa com Nick Drake ou Tim Buckley... Ups, desculpem, este é o início de um press release sobre a banda e a Time Out não copia press releases. E noutro press release fala-se também de Bon Iver e Sufjan Stevens... Talvez ainda lhe juntasse Arcade Fire ("Shout", por exemplo). Um hábito, não apenas doméstico, este de descrever a música mais pelas influências que pelo resultado final. É, convenhamos, de uma enorme comodidade. Ficamos logo a saber que estamos em território folk, ora melancólica, ora bem humorada, sempre intimista, mas também de uma enorme imaginação sónica. Há instrumentos inesperados (garrafa de cerveja, em "I Wanna Be Your Fog", uma das mais belas canções), arranjos clássicos de cordas ("Fall For You"), muitas e belas guitarras (belíssima, a sua entrada em "Be My World"), vozes maduras e coros afinados. Mas há, principalmente, um ambiente geral, muito suportado nas percussões, canónicas ou nem tanto, em teclas e outras electrónicas, que confere um cunho marcadamente onírico, talvez excessivo para certas almas mais sensíveis a sonoridades despidas (exemplo: "Under", quase a remeter para algum rock sinfónico de má memória), embora também por aqui as haja ("Heart"). Digna de nota é a homogeneidade de produção do disco. A aventura criativa e sónica não desagua numa amálgama de sons inarticulados, pelo contrário, nesta segunda gravação de maior fôlego (Chromatic, de 2011, sucedeu um a EP, de 2010), a banda surge extremamente segura em todas as frentes, fruto evidente de muita estrada, que inclui, por exemplo, a recente reinterpretação ao vivo do primeiro disco dos Velvet Underground (aventura, sublinhe-se, da qual não cai qualquer sombra para esta gravação). Janeiro começa, assim, com um dos discos do ano.

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