Música para soar e suar
Florence + The Machine [Meo Arena, 17 ABR]


Poucos meses depois de terem enchido e incendiado o Meo Arena, Florence + The Machine regressam com a mesma receita. Como escreve Manuel Morgado, estas canções assombradas acabam por fazer bem à alma 

A última vez que Florence esteve em Portugal foi também no Meo Arena e o concerto acabou com ela de soutien a incitar a plateia a tirar também uma peça de roupa, ao som de "Dog Days Are Over". A ideia é vermo-nos livres do que não precisamos... É certo que estávamos em Junho, num Super Bock Super Rock de pavilhão esgotado, e a temperatura convidava até a tirar mais que uma peça de roupa... Mas também é verdade que os espectáculos dos Florence + The Machine costumam atingir uma tal intensidade, mesmo no sentido físico, que ninguém deverá queixar-se de eventuais baixas temperaturas neste regresso noutra estação. 
A música de Florence, a forma como é orquestrada e especialmente o modo como é cantada - há quem diga "gritada" -, é feita precisamente a pensar nos concertos de grandes espaços, de preferência em plateias que permitam alguma comunhão com a assistência. Porque se aqui não há qualquer espaço para a intimidade, tal é a intensidade dos décibeis, a cantora faz questão de manter uma grande interactividade com o público, ora contando as histórias, quase sempre autobiográficas, por detrás das canções, ora de uma forma ainda mais próxima, por exemplo, oferecendo flores. 
 Embora tenha estabelecido um estilo muito próprio e rapidamente identificável, nota-se que Florence Welch ouviu muito (e viu...) Kate Bush, mas que também interiorizou um sentido de espectáculo a que nos habituou, por exemplo, Madonna (na entrega e na plasticidade do espectáculo), e até mesmo os Led Zeppelin, sendo que as piruetas e a forma como se desloca com rapidez e àvontade pelo palco fazem lembrar os melhores dias de Robert Plant. A digressão mundial que agora está a realizar insere-se na promoção do seu último disco, "How Big, How Blue, How Beautiful" (2015), um tudo nada menos histriónico que os anteriores. Mas estes são também concertos em que a banda aproveita para revisitar os temas das edições anteriores: "Lung" (2009) e "Cerimonials" (2011). É, por isso, expectável que pelo Meo Arena desfilem todos os temas que já tornaram os Florence + The Machine num poderoso fenómeno de vendas (o disco mais recente subiu ao primeiro lugar dos tops do Reino Unido e dos EUA). Em Lisboa vão, por isso, ecoar de novo versões aditivadas de "Shake It Out", "Ship to Wreck", "What Kind of Man" ou "You've Got The Love". 
Os portugueses já o sabem (além da passagem pelo SBSR, a banda visitou-nos, em 2010, logo após o lançamento do primeiro disco): a um concerto dos Florence + The Machine não se vai para ficar sentado, ou sequer quieto. Seja por identificação com a irrequietude de Florence em palco, seja pelo próprio apelo da música (uma mistura de raízes folk, que no terceiro disco ganhou contornos soul mais acentuados), é tempo de dançar e saltar. No fundo, deitar cá para fora todos os fantasmas, amores e desamores e outras dores, que povoam e assombram esta música. A ideia é mesmo essa: exorcizar, pela exposição e pela intensidade, tudo o que nos corre menos bem. E assim, de forma um tanto paradoxal, esta acaba por ser música que faz bem. Ao corpo e à alma.

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