Adele, Meo Arena, 21-22 Maio


Num dos primeiros concertos desta digressão, ainda em Londres, Adele falou à audiência de uns desarranjos intestinais que a tinham apoquentado durante o dia. Sim, Adele talvez chegue a soar inconveniente a alguns dos seus fãs, gente maioritariamente de uma classe média urbana que, à falta de melhor, não se importa de aplaudir os múltiplos émulos que pululam naqueles programas televisivos de talentos imitadores de estrelas. Essa simplicidade desarmante - as cenas da vida doméstica são outro dos seus tópicos preferidos - tornou-se já uma imagem de marca. Ela é a rapariga comum, com jeito (e que jeito...) para escrever canções e com uma voz de ouro que, no intervalo de afazeres certamente importantes, nos dá a honra de cantar para nós, sem paredes de vídeos, luzes que cegam, gesticulações e outras ginásticas. Não, Adele só canta mesmo. E conta histórias, é verdade. Sem menosprezo para as outras miúdas - ela até é fã de Beyoncé... - esta apenas quer dar-nos música ("dar", enfim, será uma força de expressão). A simplicidade com que se apresenta, como se imagina, dá imenso trabalho e o espectáculo é meticulosamente encenado, desde o momento em que Adele surge no palco numa plataforma elevatória, até que a mesma geringonça a engole, uma hora e meia depois. Todo um rigor de cena para fazer realçar o que realmente importa: a voz, as canções. Ao terceiro disco - recordemos: "19", "21", "25" - ela é já uma das maiores estrelas mundiais, quebra recordes de vendas atrás de recordes de vendas, faz bandas sonoras para o 007 e pode embarcar em digressões mundiais, como esta, em que, de Fevereiro a Novembro, avia mais de uma centena de concertos. Em Lisboa, onde actua pela primeira vez ao vivo, são dois. Esgotadíssimos.

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