Salvador Sobral - Paris, Lisboa ****

Comecemos pela Eurovisão. O próprio Salvador Sobral não resistiu ao flirt e inclui aqui uma versão do tema de Francisca Cortesão (Minta & The Brook Trout) e Afonso Cabral, em que apostava no Festival de 2018. “Anda Estragar-me os Planos”, cantada por Joana Barra Vaz, ficou pelo caminho, e renasce neste disco numa versão exuberante, marcada pela sonoridade do rajão madeirense e ritmos africanos. Ambiente de festa, ou não fosse este um disco de estúdio, mas que por vezes (e é o caso...) mais parece uma actuação ao vivo. Eurovisão, ainda, porque se há aqui um tema que poderia ser a sequela de “Amar Pelos Dois”, essa canção é “Benjamin”, no seu recorte clássico, assente numa melodia de fácil absorção. A Eurovisão foi o acidente feliz na carreira de Salvador Sobral – permitindo-lhe, por exemplo, gravar um disco nas excelentes condições deste, ou abrindo-lhe as portas dos palcos do mundo –, mas Paris, Lisboa deixa claro que a contaminação só ocorreu num sentido. Salvador Sobral continua a interpretar música essencialmente estruturada a partir do jazz, quase sempre em registo de balada. Essa base permite-lhe depois digressões, por exemplo, pelo bolero (“Grandes Ilusiones”), a chanson (“La Souffleuse”), ou até o folclore nacional (“Mano a Mano, com Zambujo). Assina apenas cinco das letras, sendo tudo o resto, letra e música, de autoria alheia. Este é um disco feliz, luminoso, apaixonado até, como se prova na contracapa.

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