Leonard Cohen - Thanks for The Dance ****

Estas nove canções resultaram, evidentemente, das sessões de gravação de “You Want It Darker”, o disco que, em 2016, acabou por ser o inesperado testamento de Leonard Cohen. O velho leão, ferido por um cancro e preso a uma cadeira ortopédica, cantou e declamou alguns dos seus derradeiros poemas, com o filho, Adam, nas lides instrumentais. 
Dessas sessões resultou esse primeiro disco, sombrio e premonitório, no seu labor em redor da morte, com uma gravitas própria, que lhe adveio do desaparecimento sobreveniente. As canções que agora nos chegam são inevitáveis segundas escolhas dessa sementeira. 
Apesar de ter gravado apenas a voz, na prática, Cohen deixou as canções praticamente prontas, ao imprimir a cada uma o cânone desenvolvido nos últimos anos, especialmente a partir de “Old Ideas” (2012). O filho, acompanhado de uma vaga de estrelas (Beck, Feist, Patrick Watson, Damien Rice, músicos dos National e dos Arcade Fire) – que, diga-se em abono da verdade, primam pela discrição – limitou-se a encontrar as orquestrações que rodeiam a voz, num trabalho não muito diferente do que fizera no primeiro disco. 
O resultado, interessante pela utilização meticulosa de instrumentos e coros (de que é excelente exemplo o tema-título), acaba por ser demasiado conservador, por absoluta falta de sentido do risco. Cohen, na posse total das capacidades vocais, canta o amor, a religião e o sexo (“Happens to the Heart”, ou “The Night of Santiago”), também sem surpresa, ou algo que coloque estas canções em qualquer top coheniano. “Puppets” ou “The Hill”, por exemplo, têm claramente potencialidades que não foram exploradas. 
Apesar de tudo, fica-se com a sensação de que, entre pai e filho, poderíamos ficar toda uma eternidade a ouvir canções destas.

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