Melody Gardot - Worrisome Heart *****

O disco já está nas lojas há umas semanas, mas seria uma pena que por lá ficasse. A primeira gravação de Melody Gardot merece ser ouvida e, inevitavelmente, reouvida. Sim, trata-se de mais uma cantora de jazz pop, descendente da cadeia hereditária genuinamente iniciada por Diana Krall e amplamente demonstrada nas suas linhas mais ligeiras por Norah Jones.
Melody Gardot foi literalmente passada a ferro por um automóvel, quando, aos 19 anos, passeava de bicicleta pelas ruas de Philadelphia. A sobrevivência passou pela medicina, presume-se que principalmente, mas também pela música (e ainda dizem que a música não salva…) utilizada em jeito de terapia emocional. Daí resultou um primeiro EP, gravado ainda no hospital, e depois algo de maior fôlego, gravado em 2006, mas só agora editado comercialmente (mistérios insondáveis do negócio!).
São dez canções e, sinceramente, é difícil escolher uma, duas ou três para demonstrar que estamos perante uma compositora e cantora muito acima da média.
O amor, mais na forma de desejo que de prática, é a tónica dominante. Ouça-se, por exemplo, “Love Me Like a River Does”, que, na indolência jazzística, sintetiza de forma exemplar o ambiente musical dominante.
Na versão mais pop, temos “All That I Need Is Love” (novamente o amor enquanto desejo), ou, para os amantes de Cole Porter e contemporâneos, que tal começar por ouvir “One Day”? E, para quem ainda tenha dúvidas de onde tudo isto vem, lá está “Sweet Memory”, um blues muito sofisticado a que se segue “Some Lessons”, uma surpreendente balada, que começa apenas com a viola de Melody e evoluiu para um acompanhamento de cordas de uma extrema beleza. Enfim, um disco onde claramente se procurou a perfeição. O que já é meio caminho andado.

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