Ry Cooder - I, Flathead ****

E eis mais uma banda sonora de Ry Cooder. Esperem… Não é verdade, não desistam já. Apesar do título e do subtítulo do CD, não estamos perante uma banda sonora. Bom, de certa maneira…
Desta vez, Ry Cooder fez ao contrário e, por isso, estas 14 canções são, elas próprias, a história. Sendo que também podem servir de banda sonora, mas a uma novela de umas largas dezenas de páginas que acompanha a edição deluxe.
Cooder tornou-se num contador de histórias por excelência. Este I, Flathead é o terceiro disco (depois de Chávez Ravine e My Name Is Buddy) inspirado numa Califórnia quase mítica, desconhecida, anterior à explosão da música pop.
A história, aqui, é a de um cantor de música country e corredor de automóveis (Kash Buk) e da sua banda (The Klowns) e que tem tanto de humor, como de ficção científica, como de canções on the road ou as sempre gloriosas about cars and girls. Este acaba por ser um disco de contos, já que cada canção vale por si, ou, se aceitarmos o fôlego a que o autor se propôs, bem podemos ouvi-lo como se lêssemos um romance.
Musicalmente, quase tudo remete para a pré-história do rock, seja através do country, do blues, dos talking books, do rockabilly, das influências latinas, do boogie-woogie…
Tudo isto embalado numa sonoridade perfeitamente contemporânea, mercê, em grande parte, da inspiração e mestria de Cooder, o qual, uma vez mais, toca quase tudo quanto é instrumento.
“Drive Like I Never Been Hurt”, logo a abrir, dá bem o tom – um pujante tema r&b, com toques de tex-mex. Mas “Filipino Dance Hall Girl” é outra canção que dificilmente se esquece. Não poderia ser de outro modo, num disco em que se proclama: “Johnny Cash will never die buddy cant’t you see…”

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