Tente fazer isto em casa. Está a ver aqueles mágicos ou
anúncios que arriscam e depois o diminuem – “não tente fazer isto em casa”? Os
discos de Bonnie “Prince” Billy, especialmente este, no seu aparente
amadorismo, convidam a um traiçoeiro: “então, agora experimente lá você”.
Traiçoeiro porque nem todos escreveríamos versos de abertura
como “I once loved a girl, buy she couldn’t take that I visited troublesome houses”,
ou, mais à frente, falando de uma noite com uma mulher, poucos se lembrariam,
ou arriscariam, proclamar que “the smell of your box is still on my mustache”.
A forma como Bonnie se atira a histórias, de amor, do seu
inverso, ou de simples companheirismo é um dos seus segredos. Histórias bem
esgalhadas, que prendem a atenção, seja pelo afecto à flor da pele, pelo humor
desconcertante, pela história ela própria.
O outro segredo, e fiquemos pelos óbvios, passa obviamente
pela forma peculiar como Bonnie entoa as canções, numa aparente, insiste-se,
numa aparente fragilidade, nunca sendo evidente a forma como cada passo se vai
seguir ao que o precedeu.
Nesta gravação, pela primeira vez, é assumida na capa uma
velha colaboração com os Cairo Gang, que emprestam a cada canção sonoridades
sempre inesperadas, seja pelos coros, ora alinhados (enfim…), ora em
contraciclo, seja pela diversidade instrumental, especialmente da guitarra, que
vai de um simples e quase inaudível dedilhar a breves solos Claptonmaníacos.
As canções, também elas, vão de registos intimistas, quase
comoventes (“That’ What Our Love Is”), a coisas que se aproximam de country-pop
(“The Sounds Are Allways Begging”). E, claro, os mais velhos podem sempre
entreter-se a encontrar Crosby Stills and Nash debaixo de cada pedra da
calçada.
Muito à custa de uma produtividade acima da média, Bonnie
“Prince” há muito que deixou de ser um dos segredos mais bem guardados da cena
contemporânea. Que o povo o consuma. E, a sério, que tente fazer isto em casa.