Há muito que o Barreiro deixou de ser a cidade
pós-industrial deprimida e passou a integrar uma América imprecisa, talvez no
Sul, numa época também ela indefinida. Nomes como Nick Nicotine, músico,
produtor, editor e organizador de festivais, colocaram a cidade num roteiro do
rock nacional que vive à margem da rádio e de outros circuitos de divulgação.
Este disco, o segundo da Nicotine’s Orchestra, é uma boa
oportunidade para a rádio se redimir. Muitas das canções que por aqui se ouvem
poderiam ter sido escritas na tal América e até figurar em antologias do rock
rude, herdeiro da soul e do blues (“Rosario”), tipo George Thorogood (“Love At
First Sniff”), topam? Ou, se preferirem, filhas do cruzamento das bandas
sonoras de Tarantino (“Help Me”) e David Lynch (“Mighty River”), que o
psicadelismo também lhes assenta muito bem.
Um disco, já perceberam, cruzamento de muitos e bons
imaginários.