As frases feitas existem para serem usadas. Eis então:
primeiro estranha-se, depois entranha-se. A canção inicial causa uma sensação
esquisita: a voz cai para o sopinha de massa, as sílabas, ora se atropelam,
ora, comidas, desaparecem. Uma contrariedade.
A cada canção, habituamo-nos à ideia. Percebemos que a voz
frágil foi incorporada no estilo e o único (?) lamento é nem sempre percebermos
o que canta Márcia. Até porque pressentimos poemas lindos.
O resto é muito bom. Especialmente, o trabalho de
ourivesaria com que cada canção é vestida, longe da voz/guitarra do EP de
estreia (2009). Ou não estivessem na produção e em colaborações diversas alguns
dos nomes de relevo da novíssima música portuguesa (Real Combo, Walter
Benjamin, B. Fachada…).
O resultado é um trabalho de grande sensibilidade, do qual,
no entanto, é necessário aprender a gostar. Chamar-lhe a Carla Bruni portuguesa
é redutor, mas ajuda a situar a ideia.