Leonard Cohen - Popular Problems *****

O lançamento deste disco coincidiu com o 80.º aniversário de Cohen e o marketing fez o resto - "vejam, ele ainda consegue..." -, quando, na verdade, não é esse o ponto. Não estamos perante uma rotineira prova de vida, mas antes face ao estabelecimento de um novo paradigma. Num gráfico de linha, Popular Problems representa um pico, a par do álbum de estreia (1967) e de I'm Your Man (1988). É um disco de síntese, de revisão e depuração da matéria. Nada aqui está a mais ou a menos, outra forma de dizer que tudo aqui é perfeito. Musicalmente, nunca Cohen se terá sentido tão à vontade, encontrada que está a fórmula ideal para enquadrar a sua poesia - um blues ligeiro, quase lounge por vezes, baseado em teclas e percussão electrónicas, coros femininos e apontamentos de metais (obra do co-autor, músico e produtor Patrick Leonard, responsável por muitos êxitos de... Madonna). Nesse ambiente seguro, Cohen acaba por revelar uma voz funda e segura como nunca, mesmo quando apenas sussura ou quase declama. À pose e rigidez de outros tempos, contrapõe agora uma evidente naturalidade. As nove canções são, também, um trabalho de depuração dos temas fetiche: o apocalipse das guerras quotidianas ("Nevermind", com referências implícitas ao conflito do Médio Oriente) e enquanto destino ao qual não podemos fugir ("Almost Like The Blues"); a maldição do amor e da religião, como se fossem uma e a mesma coisa ("Born In Chains", a merecer figurar entre as suas melhores canções); o amor ainda, mas agora entre a ironia e a ternura ("Did I Ever Love You" e "Slow"). A fechar, "You Got Me Singing", acústica e com referências a "Hallelujah", coloca-nos na casa de partida: no Cohen inicial e com todo o futuro pela frente. Como hoje.

[Uma "arreliadora gralha" na edição impressa retirou uma estrela a mr. Cohen. Mas o disco é mesmo cinco estrelas.]

Sem comentários: