Steve Gunn - The Unseen in Between ****

Numa prova cega, este seria um disco traiçoeiro. Tudo nele soa aos verões do final da década de 1960, ou talvez às luas dos primeiros anos da década que seguiu. Folk, ora em versão acústica ora eléctrica, algum country, muito psicadelismo e uns pós de sonoridades indianas. Ou seja, algo entre trovadores como Tim Buckleye aquela primeira fase dos Pink Floyd. Steve Gunn afirmou-se como músico de estúdio e virtuoso da guitarra e foi progressivamente ganhando voz própria como compositor. Um trovador. O seu primeiro disco a solo a demonstrar essa tendência foi “Eyes on the Lines”, de 2016, sendo que a presente gravação constitui a consagração de um autor de primeira linha. Trata-se de nove canções que têm como mote a ideia de viagem, de deambulação por paisagens naturais e histórias de pessoas. “A hand-driven hand map provides the facts”, canta em “Paranoid”, a canção que encerra o disco, a que não faltam uns bons segundos de massa sonora atordoante, tão ao gosto dos sixties. Na mesma linha, “New Familiar” transporta-nos para as ragas indianas desses anos, enquanto “Morning is Mended” poderia ter saído da mente de Syd Barrett. Na versão acústica, em que Gunn resiste a exibir o virtuosismo que patenteia noutras paragens, cabe destacar “Stonehurst Cowboy”, a memória do pai numa evocação da paisagem de Filadélfia, e “Luciano”, a história da relação de um taberneiro com o seu gato. “New Moon”, que abre o disco, casa na perfeição as sonoridades acústica e eléctrica, num disco de produção afinadíssima e em que se descobrem novos pormenores a cada nova audição.

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