Beirut - Gallipoli ****

Os Beirut poderiam ser a tradução para uma linguagem universal da tal palavra saudade, que os portugueses gostam de pensar intraduzível. Nada de fado, que fala da saudade, mas não é saudade ele próprio. Esta música, sim. Aquela toada triste, melancólica, mas que sabe bem, bonita até, mesmo alegre às vezes. Aquela desesperança que nunca acaba e que, por isso mesmo, mantém sempre viva a esperança. Como a saudade. Isso talvez nunca tenha sido tão evidente como neste quinto disco de Zach Condon, o rapaz que gosta de se fazer passar por Beirut, uma banda que sempre fez da vagadundagem musical o seu cartão de visita. A matriz da última década e meia mantêm-se: som radicalmente indie, mas que não recusa beber em várias fontes folclóricas, especialmente do Leste europeu. A novidade, volvidos que estão quatro anos de silêncio, é agora a polifonia mais avançada em que tudo se apresenta, com as várias sonoridades a desenvolverem-se de forma autónoma, como se leques de uma orquestra sinfónica se tratasse. Fazê-lo, sem perder a leveza pop, eis a beleza da coisa. Nessa dança - sim, esta é também música de dança - entra o arcaico e omnipresente órgão Farfisa (“Corfu”), mas também o trompete, que Zach Condon interpreta em pistas sobrepostas (“Gallipoli”), ou os arranjos de metais (“We Never Lived Here”), ou ainda de tudo um pouco para parecer mesmo uma orquestra (“Family Curse”). E depois há duas canções maiores e que definem o disco - “Landslide” e “Varieties of Exile”, sobre coisas que acontecem maiores que nós, mas que nos fazem maiores, e as linhas frágeis que determinam permanências e ausências. Ou seja, a saudade.

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